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Escrivã Ana Rosa Campos concorre a prêmio nacional por conta do Chame a Frida

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MANHUAÇU (MG) – Colocar a tecnologia para combater a violência contra a mulher foi a grande ação de Ana Rosa Campos, de 33 anos, preocupada com os impactos do confinamento em quem poderia ser agredida. Escrivã da Polícia Civil de Minas Gerais, bacharel em direito e especialista em violência doméstica, ela vive em Manhuaçu, interior de Minas Gerais, e é uma “veterana” quando o assunto é desenvolver ações para a parcela feminina da população.

Entre elas está, por exemplo, a criação da Delegacia da Mulher humanizada (conhecida como Humanização da DEAM), que deve começar a funcionar em 2021 e é um espaço mais parecido com um consultório, que possui tudo o que é pedido na Lei Maria da Penha – como sala de atendimento psicossocial, brinquedoteca, sala de conversa para falar com homens agressores, entre outras coisas.

Mas a novidade em questão, também desenvolvida por Ana Rosa, é a criação da assistente virtual de nome FRIDA, que providencia atendimento 24 horas para vítimas de violência, principalmente doméstica. O “Chame a FRIDA” surgiu por conta do confinamento imposto pela Covid-19 no Brasil e da consequente impossibilidade das vítimas de chegarem às delegacias para denunciar agressões. “Eu fiquei preocupada com o ‘sumiço’ das mulheres, pois sabia que a violência doméstica não tinha cessado em razão de uma crise sanitária. Algo estava errado”, conta ela sobre o projeto. “A verdade é que elas estavam sofrendo caladas, acuadas. Em outros casos, não conseguiam transporte público”, diz Ana Rosa.

Mas como funciona a assistente? A própria criadora explica: “Basta adicionar o número de telefone da delegacia de Manhuaçu no WhatsApp e pronto. Gostaria que já estivesse valendo para o Brasil todo, mas, por enquanto, serve apenas em Minas Gerais”, diz ela. “Eu não tinha recurso financeiro nenhum, mas com um celular doado por um colega policial e um chip, criei o chatbot (cuja licença eu paguei com recursos próprios). Programei a assistente com todas as soluções que imaginei para ajudar as mulheres”, conta ela.

O sucesso foi imediato e FRIDA impediu até mesmo uma tentativa de assassinato: “Decidi que trabalharia durante toda a pandemia, sem folga, para monitorar algum chamado de emergência que surgisse na atendente virtual. E o chamado veio. Pude interceder para enviar uma viatura e prender um homem que ameaçava matar uma vítima, a qual já tinha medida protetiva”, conta ela.

Ana Rosa também explica que a FRIDA pode se tornar uma aliada mesmo nas comunidades rurais da região, onde as mulheres têm menos mobilidade para chegar à delegacia, caso necessitem: “Eu sei, pela minha experiência, que essas mulheres sofrem caladas, nem sempre possuem recursos para acionar a polícia ou têm a informação certa. Mas nas residências das zonas rurais elas contam com celulares e internet, mesmo que via rádio. Até celulares com pacotes pré-pagos podem acessar”, explica.

Além disso, o chatbot da FRIDA compreende áudios e recebe fotos, vídeos e a localização da possível vítima: “Assim, mulheres analfabetas podem contar com o atendimento virtual sem prejuízos. Com ele é possível pedir e agilizar mesmo o pedido de medida protetiva”, diz.

Impacto e democratização da ideia

O sucesso da assistente virtual foi tanto que gerou um coletivo feminista de mesmo nome. “Um grupo de seis mulheres soube o que eu estava fazendo e resolveu criá-lo”, explica Ana Rosa. “Elas nem moram na mesma cidade que eu, mas colocaram no ar site do projeto, perfil do Instagram e passaram a divulgá-lo. Isso chamou a atenção de um deputado. Em três meses, Chame a FRIDA virou projeto de lei e aguarda tramitação”, conta ela.

Feliz com o impacto e a repercussão, a escrivã afirma que um dos seus objetivos, quando teve a ideia, era democratizar o acesso das mulheres para fazer denúncias. Até porque, Minas Gerais possui 73 Delegacias da Mulher para os 853 municípios do estado. “Dessas, apenas uma única delegacia funciona 24 horas, que é a da capital, Belo Horizonte. É um absurdo!”, diz. A assistente “FRIDA veio para trazer esse atendimento sem dar custo algum para os cofres públicos”, completa.

Sobre o impacto de ter criado a Chame a FRIDA, Ana Rosa Campos é taxativa: “Trabalhar com violência doméstica, para mim, é sacerdócio e não profissão”. “Eu inovei. Aprendi, na prática, o que significa sororidade”. Vida longa às criações de Ana Rosa Campos.

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LUCIANA BORGES E GIOVANNA BREZOLINI / COLABORAÇÃO PARA MARIE CLAIRE

Fonte: Portal Caparaó – parceira do Plantão Policial

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