“Eu não consigo entender a irresponsabilidade, o negacionismo e o egoísmo das pessoas quem saem de casa sem a menor necessidade para sentar em um bar e tomar uma cerveja, de quem aglomera em um momento tão difícil”. O desabafo é de Valéria Alves, de 45 anos. A família dela, de Governador Valadares, na região do Rio Doce, vive a dor de perder duas parentes em menos de 24 horas. Danubia Pereira Venâncio, 36 anos, e Vanessa Pereira Venâncio, 40, foram sepultadas na última semana vítimas do Coronavírus. Em conversa com a reportagem neste domingo (13), ela contou que a primeira a ser internada foi Danubia.
“A Danubia foi internada no dia 2 de dezembro. Ela me ligou falando que não estava conseguindo ficar de pé. Eu estava no trabalho e solicitei que um carro de aplicativo a pegasse e levasse para a policlínica. Fui ficar com ela e a encontrei bem debilitada, dei comida para ela na boca – no almoço e na janta, não conseguia ficar sentada direito”, contou a tia.
Segundo ela, a sobrinha fez exame de sangue, tomografia e ficou no oxigênio. No fim da mesma noite, Danubia foi para o quarto, chegou a ficar com a pressão alta, mas estabilizou com o tratamento. Dois dias depois, no dia 4 de dezembro, Vanessa foi internada em outro hospital da cidade.
“Ela foi com uma amiga, e encaminharam direto para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Nos falamos um pouco antes dela ser internada. Como a Vanessa era técnica de enfermagem, pedi para que ela conversasse com os médicos, que não fosse entubada. Ela me respondeu: ‘pode deixar, tia. Vou fazer de tudo para não ser entubada’. Passou o sábado e, no domingo, recebemos os boletins médicos. A Danubia precisou ser entubada. Na segunda, recebemos a informação que a Vanessa também precisaria ser entubada”, explicou Valéria.
No decorrer da semana, a família recebeu os boletins médicos das duas irmãs informando que elas estavam com os sinais vitais funcionando e nenhuma delas precisaria de hemodiálise. No entanto, na quinta-feira (10), os médicos contaram que Danubia não tinha resistido. Ela foi sepultada às 17h30 do mesmo dia.
Já a Vanessa sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e, por tomografia, médicos identificaram uma trombose em várias veias, segundo a tia.
Sepultamento e outra morte
Segundo Valéria, os familiares passaram a clamar por um milagre pela vida de Vanessa. No entanto, ela também não resistiu e morreu na sexta-feira (11).
“Foi um momento de muito desespero. Enterramos a Vanessa, e agora estamos vivendo um dia de cada vez. Está sendo muito difícil principalmente para minha irmã e minha mãe”, desabafou.
Vanessa e Danubia eram as únicas filhas da irmã de Valéria. Vanessa deixa três filhos, e, Danubia, dois. Todos menores de idade.
Desabafo
Valéria gravou e publicou vídeos na internet falando da situação da família. Ela também fez um desabafo para tentar conscientizar as pessoas que ainda insistem em manter a aglomeração.
“Eu queria perguntar as pessoas se elas gostariam de passar o que eu estou passando, se elas queriam enterrar os parentes delas como eu enterrei os meus. Ou se elas gostariam de ser enterradas como as minhas sobrinhas foram. Se elas gostariam de ver os entes queridos sofrendo. Eu gostaria de pegar as pessoas e poder balançar, dizer: ‘vão para casa, usem máscaras, só saiam de casa em caso de necessidade, mantenham o distanciamento’. Eu e meu irmão tivemos Covid e conseguimos vencer. Mas, dessa vez, em duas ocasiões, nós não conseguimos vencer a Covid. Foi o vírus que venceu a nossa família”, finalizou.
Fonte: O Tempo